Visão da núvem

Hoje sonhei com você, sabe-se lá como.
Como podemos sonhar, conhecer, dialogar com um futuro?
Se ainda será, como posso sendo, ter a certeza que é?
Só quem sabe, sabe, mesmo sem saber que sabe ou duvidando do que já é conhecido.
Conheço sem dúvidas quem virá a ser, sem ao menos poder ver, ouvir ou tocar
Com a certeza que a pluma jogada do mais alto arranha-céu tocará o chão.
Mesmo com o apaziguador do vento agindo em sua função.
Não a de suportar a pluma pela eternidade, mas em acariciar nosso rosto enquanto a espera
Entre as nuvens do ver, seus pés suportados pela esperança.

Amor X Paixão

O que é cada um desses? Qual o mais importante? Alguns responderiam de pronto e imediato, seja um, ou seja o outro. Eu respondo que, como tudo que é da vida, deve ser equilibrado e me arrisco a dizer também que são quase complementares.

Determino o amor, me referindo a este, como todo aquele sentimento despretensioso, que nos desprende de nós e nos transporta ao ser amado. Tão tenro e sublime que só Um é capaz de Ser e não apenas ter, sem inveja ou ciúme, sem rancor ou egoísmo.

Sendo objeto deste seu companheiro, pais, irmãos ou amigos. Quem quer que seja. Provavelmente nunca descobrirão o quão intenso é esse sentimento. Poucas pessoas conseguem realmente contemplar uma bela obra de arte, e sentir em seu intimo tudo aquilo que o artista quis expressar em sua obra. Este é o olhar necessário para, ao cruzar o seu com o de seu próximo, e conseguir distinguir do espelho de sua alma, aquele sentimento misterioso, morno e constante que como um nevoeiro, chega e o envolve por todos os lados, mas nunca impedindo que o seja atravessado.

Já a paixão é aquilo explicito, claro e notório que a poucos deixa a dúvida de sua existência. Porem podendo ser desmedido, dominador ou egocêntrico. Vindo de origens variantes e podendo ter resultados catastróficos. Forte e intenso como este, promove perigo aos que dele abusam, ou que agem por ele unicamente guiados. Corruptível como qualquer fonte de poder, porem miraculoso quando canalizado para, como um holofote a iluminar aquela obra de arte, tornando invisível apenas aqueles que se mantêm de olhos fechados.

Como não tornar seu amor algo egoísta fazendo-o fugir de sua definição, onde apenas o seu ser detém sua plena consciência, omitindo do ser amado o conhecimento de sua existência?

Como para quase tudo na vida, existe mais de um caminho, creio não ser apenas através da paixão, mas havemos de concordar que ela pode tornar-se um grande combustível, tornando o morno amor em uma chama que arde levemente por toda a vida e até em labaredas, que alem de aquecer e iluminar o ser amado, mostra aos infelizes que não o conhecem, que a vida não precisa ser fria e escura, mas clara e quente como o coração daquele que ama e se faz mostrar aquilo que sente.

Aquilo que se busca em um presente

Penso, logo o outro existe em meu pensamento. Sabendo apenas disso nossa longa lista de existentes, se fazem lembrados a cada dia e a cada momento.
Ainda essa semana uma recente amiga me perguntou "O que você gostaria de ganhar de presente?". Mal sabes que meu presente deste dia foi a simples preocupação de alguém em me ofertar algo que me agrade. O melhor presente que se pode ganhar é um pensamento, aquele de súbito impulso. Um simples "Olhei isso e achei a sua cara" ou "Quando vi isso lembrei logo de você", esses de inocente felicidade que nos faz retribuir a atenção que empregamos aos que nos rodeiam. Sem esquecer aquele do fruto do conhecimento mutuo de anos de convivência, maquiavelicamente planejado na surdina, para que com o assombro da descoberta nos faça enrubescer, criando no lacrimejar dos nossos olhos um espelho da alegria de ver em nós refletida, do espanto existente ao observar a pirâmide de reconhecimento, forjada a suor e risos em sua base a cada dia mais ampla. Vezes sem imaginar o perímetro de sua tangencia, porém, fermentada do assombro longínquo da perplexidade do imaginável formado pela convivência que nos mingua da esperança das mudanças, porém só corroborada pelo festejo de vida de um bom amigo. Que faz a cada vez mais, nos querer deixar ser topo a virar base dessa imensa construção chamada "fazer-se recordar".

Liga-pontos

Fechando-os apenas ou não.
Com saudades de uma mão que nunca vi mas sempre a sinto bagunçando meu cabelo.
Com seu sorriso meigo me deixando calmo, tranquilo. Vendo em você todo meu mundo com o céu azul de fundo e as nuvens como testemunha daquilo que tenho e não posso ter. Que sei mas não tenho certeza. Tendo apenas como claro a felicidade da dúvida.
Abrindo-os uso as luzes da cidade como liga-pontos formando formando nitidamente seu indefinido rosto sorrindo me dando a vontade de berrar em silencio para que o mundo ouça e eu me convença de que você, como eu, varre o horizonte, necessitando apenas olhar para o lado.

Me diga Lua

Em sua luz, seja prata ou alaranjada, transmites aquilo que a ela está predestinado desde quando ela assim existe. A tranqüilidade, o frio, o calor, o sonho, a paz, a paixão...

Tudo aquilo que cada ser com sua alma espelha, através dos olhos iluminados por sua imensidão, podem em seu profundo. Que é desconhecido até pelo seu próprio ser, mas claramente compreendido por aquela que em sua silenciosa aparição, sussurra ao nossos ouvidos o que precisamos ou afaga com sua presença nossos sonhos por alcançar.

Apenas mais um a falar, cantar ou poetizar essa que, por definição, é a que reflete o que a musa em seus devaneios anseia ao observar de sua sacada, mesmo que ao acaso, de um leve relance a deixe passar aos olhos.

Peço a ti apenas a luz necessária, aquela refletida da mente de quem olha de sua janela e mora em meus sonhos, para que assim como é observada, possa eu ver e enxergar. Ser visto e ser enxergado para que ao fim possa dizer. Obrigado.

O movimento da vida

Como um carro desgovernado, não quero que essa vida assim faça, com o pleno controle que planejei a ela. Desejo que assim me guie, para aquilo que somente eu desejo e egoistamente reflito. Para o dia e a hora exata do momento que nunca chega, para o instante que desejadamente se tornará pensamento que junto a um corpo já cansado encontrará repouso. Para a beira mar, confortavelmente acompanhado de meus amigos sonhos, me torne imortal como uma vida de criança e pequeno como uma partícula de ar que vaga despercebida e solitária, desejando ser encontrada para o que ela assuma sua função de atear fogo em um peito que suspira por uma realização não alcançada. Assim prossigo, continuando a olhar a linha reta e curva do horizonte aguardando que se torne um laço e me arraste para um oceano de liberdade.